Sobre

Trajetória e Importância

O II Simpósio Nacional Geografia, Ambiente e Território (II SIMGAT) é um evento organizado pela Rede de Pesquisadores em Geografia (Socio) Ambiental/RP-G(S)A. Essa rede, que congrega atualmente mais de duas dezenas de pesquisadores de destaque de várias universidades e instituições científicas brasileiras (vide https://geografia-socio-ambiental.webnode.com/), foi criada em abril de 2017, com a finalidade precípua de fomentar a pesquisa no campo da Geografia Ambiental, com uma ênfase especial na Ecologia Política.

Em outubro de 2017, em Porto Alegre, durante reunião dos membros da RP-G(S)A que se encontravam naquela cidade por ocasião do XII ENANPEGE, escolheu-se a Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", em seu campus de Presidente Prudente, para sediar o I SIMGAT. Foi, então, em novembro de 2018, realizado naquela cidade o primeiro evento nacional da rede, o qual teve como tema central "Reterritorializar a vida: O ambiente e as lutas por direitos", uma temática que nos remete ao âmago da dimensão político-social dos debates ambientais contemporâneos, tão presentes no mundo e no Brasil. Ao findar o evento, duas decisões foram tomadas: a escolha da cidade de Belém para sediar o segundo evento e a elaboração de uma revista científica da Rede, cujo objetivo seria o de divulgar os resultados de pesquisas com enfoque ambiental. Lançado no primeiro semestre de 2019, o primeiro número de AMBIENTES: Revista de Geografia e Ecologia Política agregou reflexões de pesquisadores envolvidos com diferentes temáticas contemporâneas; em dezembro de 2019 saiu o segundo número, consolidando assim esse relevante periódico, que vem sendo parcialmente alimentado com as melhores contribuições apresentadas durante os SIMGATs.

Em setembro de 2019, durante a reunião do XIII ENANPEGE (Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia), os membros da RP-G(S)A decidiram que o tema do II SIMGAT, que tem a particularidade de ser realizado na Amazônia, deveria trazer no seu âmago os conflitos e as resistências dos povos dessa região diante das diversas formas de pressão sobre os recursos naturais e os modos de vida locais. Portanto, com o tema "Políticas ambientais no Brasil: Desconstrução e Resistência", será realizado nos campi da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Estadual do Pará (UEPA), a segunda edição do SIMGAT, na cidade de Belém do Pará. É até desnecessário ressaltar a importância que, na atualidade, possui, no mundo inteiro e no Brasil, a discussão da política ambiental, com ênfase sobre os efeitos dessa política não somente sobre ecossistemas, mas também e sobretudo sobre as populações humanas. Ao articular o ambiente e o território a partir de uma perspectiva geográfica, portanto holística e integradora, o SIMGAT será uma caixa de ressonância de preocupações e estudos cuja relevância para a sociedade brasileira é, cada vez mais, patente, em uma época em que as poucas conquistas do passado recente, em matéria de marcos legais e institucionalidades, precisam ser aperfeiçoadas, e não desconstruídas ou negadas, como parece vir sendo uma alarmante tendência.

A UFPA e a UEPA são duas instituições de relevância regional, responsáveis pela formação da massa crítica do estado sob os ângulos científico e intelectual. Elas apresentam uma clara facilidade de locomoção para os participantes de quaisquer eventos realizados em Belém, dada a sua boa localização na cidade. Elas contam, além disso, com uma infraestrutura adequada para a realização de eventos: auditórios, salas de reuniões e restaurantes próximos. O Programa de Pós-Graduação de Geografia da UFPA (conceito 4 junto à CAPES), tem 15 anos de existência, e uma de suas linhas de pesquisa refere-se ao estudo das dinâmicas socioambientais na Amazônia. Já a UEPA tem um Programa de Pós-Graduação recente, implantado em 2018, e sua criação veio atender a uma demanda por qualificação de pesquisadores nessa área. As duas instituições vêm recebendo anualmente eventos nacionais e internacionais, fato que as credencia para a realização do evento que estamos propondo. A própria cooperação entre as duas instituições, propondo conjuntamente o II SIMGAT, é um marco da colaboração interinstitucional na área dos estudos ambientais.


Sobre a abordagem

Conforme tem sido enfatizado em textos publicados em AMBIENTES: Revista de Geografia e Ecologia Política, a Geografia Ambiental traz para si, de uma forma epistemológica e teoricamente renovada, uma das tarefas que estão no cerne da identidade da própria Geografia como um todo, desde os seus primórdios: promover o diálogo de saberes entre os conhecimentos sobre a natureza e o conhecimento sobre a sociedade. Essa é, reconhecidamente, uma tarefa difícil, mas também é, ao mesmo tempo, fundamental. Graças a esse olhar pode a Geografia Ambiental abraçar temas complexos como os impactos ambientais, a problemática da (in)justiça ambiental, a "produção social" dos assim chamados "desastres naturais", a relação entre segregação residencial e riscos ambientais, a dimensão social da mudança climática global, e assim sucessivamente.

Quanto à Ecologia Política, trata-se ela de um campo interdisciplinar para o qual a Geografia Ambiental tem dado uma contribuição decisiva. Entretanto, se, no exterior, ela tem tido como protagonistas, ao lado dos antropólogos, os próprios geógrafos, no Brasil o interesse sistemático da Geografia pela Ecologia Política ainda precisa ser cultivado, a despeito da existência, há muito tempo, de vários eminentes geógrafos que vêm dando contribuições a esse respeito - em grande parte presentes, aliás, na RP-G(S)A e em suas atividades, como o SIMGAT e a revista AMBIENTES. A Ecologia Política aborda os problemas ambientais de forma crítica, enxergando a complexidade dos aspectos políticos (relações de poder) que se abrigam no interior dos processos e dinâmicas que modelam o ambiente, interferem no uso do solo e, não raro, produzem injustiças e assimetrias na distribuição de riscos/custos e benefícios. É a partir desse olhar que se pode chamar a atenção, de maneira ao mesmo tempo aguda e equilibrada, para as prioridades e os pontos nevrálgicos no que diz respeito às relações natureza/sociedade, com destaque para os conflitos ambientais.


Finalidades do Evento na Amazônia

A realização do II SIMGAT na Amazônia é uma vitória para a região e suas instituições acadêmicas. Mesmo contanto com integrantes de várias universidades importantes do Centro-Sul do país, a RP-G(S)A deu um voto de confiança às suas duas instituições amazônicas que dela fazem parte, a UFPA e a UEPA, para que, juntas, possam demonstram, perante o Brasil e o exterior, a pujança da região no que se refere à capacidade de sediar um evento desse porte e oferecer exemplos de excelentes pesquisas ambientais.

No entanto, não se trata apenas de mostrar as capacidades locais e regionais, mas também de ajudar a chamar a atenção dos pesquisadores para os graves problemas ambientais que a Amazônia vem atravessando. O II SIMGAT possui, portanto, o objetivo principal de discutir temas contemporâneos dos conflitos ambientais que envolvem os povos tradicionais, entre eles, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, pequenos agricultores, o Estado e o capital privado. Este último representado pelo agronegócio e pelo neoextrativismo, promotores da desterritorialização das populações locais e dos desastres de origem tecnológica. Em consonância com tudo isso, o tema central do II SIMGAT é "Políticas ambientais no Brasil: Desconstrução e resistência". A "desconstrução" aparece para que se discuta, entre os pesquisadores da RP-G(S)A e demais participantes do evento, a gradativa perda de direitos e a extinção de políticas públicas sociais e ambientais para a região, refletindo-se no aumento da invasão de terras indígenas por madeireiros, garimpeiros, grileiros etc., e no crescimento de assassinatos de lideranças dos movimentos sociais, como tem sido acompanhado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Isso se soma ao intenso desmatamento e às queimadas provocadas, que foram motivo de debate nos fóruns nacional e internacional ao longo do ano de 2019. A palavra "resistência" no título do evento, por sua vez, quer iluminar os movimentos sociais existentes e resistentes ao massacre que se instala sobretudo no campo. São os Conselhos Indígenas, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento dos Atingidos por Mineração (MAM) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que estarão representados nas mesas de debates da programação do evento, o qual se apoia na concepção do diálogo entre os saberes científico e popular.


A estrutura do II SIMGAT

Um evento com a cara da Amazônia: assim pensamos a construção do II SIMGAT, onde "Tapiris", "Puxiruns" e "Varadouros" correspondem, respectivamente, às Mesas, aos Grupos de Trabalho e aos Trabalhos de Campo. No total, são seis Tapiris (incluindo o de abertura e o de encerramento), três Puxiruns (ocorrerão em três dias) e dois Varadouros (um dia de campo), organizados ao longo de quatro dias de atividades. O detalhamento dessa estrutura está na programação detalhada do evento, ao final deste documento.

Considerando a avaliação dos resultados do primeiro evento, projetou-se um segundo evento mais aberto, reunindo um grupo de pesquisadores de diversas universidades brasileiras (membros da Rede, na maioria) e de representantes dos movimentos sociais discutindo a Amazônia. Esse fato já exerce uma grande atração da comunidade científica regional.

Esse II SIMGAT, portanto, 1) constitui-se em uma ocasião de troca entre pesquisadores de ponta, além de propiciar um espaço de encontro entre profissionais experientes e jovens pesquisadores (notadamente estudantes de pós-graduação, mas também de graduação) que buscam oportunidades para dar visibilidade e expor seus trabalhos; 2) será um momento de reflexão sobre os problemas ambientais brasileiros, latino-americanos e globais, com a finalidade não somente de avançar no que diz respeito aos diagnósticos e prognósticos, mas, igualmente, no que tange à busca por alternativas; 3) oferecerá as condições para uma análise da própria Geografia Ambiental, no Brasil e no mundo: suas potencialidades, responsabilidades e perspectivas; 4) apresentar-se-á como um espaço de discussão coletiva de iniciativas científico-institucionais diversas, voltadas para os estudos de Geografia Ambiental e Ecologia Política, tais como o engajamento em debates públicos, a reflexão sobre uma política de publicações.


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